idiot: From Latin idiota, Greek idiotes, short spirited man, ignorant; double gendered adjective and common noun; lacks inteligence; stupid, imbecile; ignorant;



Momentos Moleskin #1

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Ontem li isto numa parede na rua em Murcia:

“La anarquía no es imposible”

E apetece-me retorquir:

“No, es irreal, mientras el ser humano siga siendo una bestia”

E agora, se me dão licença, vou roubar a aparelhagem do vizinho do lado porque me apetece ouvir música...




Continuo dentro de uma bolha – na verdade, passaram segundos desde o #1, mas achei que, já que ia mudar de assunto em versao 180 graus, mais valia lançar um untitled novo. Afinal, isto é como um episódio do Seinfeld: uma série sobre nada.

Uma descriçao da cidade de Murcia, vista pelos olhos de uma lisboeta que aqui vive há um ano.

Vamos pôr as coisas desta forma: Lisboa é uma cidade lindíssima, onde neste momento eu creio que nao se pode viver. Assim, Murcia é uma cidade muito bonita onde se pode viver, e bem.

Temos um Bairro Alto. Chama-se bairro de Santa Eulália, e tem desde tascas a lojas alternativas e indies. Uma das suas principias diferentas em relaçao ao Bairro Alto propriamente dito, por exemplo, é o facto de ser completamente plano. Aqui, nao há colinas. E a cidade é bastante mais pequena no seu centro do que Lisboa. No entanto, existe uma maior concentraçao de serviços e de comércio, e de pessoas também. Além de ser uma cidade mais segura, as ruas de Murcia nunca estao vazias. E, sendo um reflexo da Espanha actual, é uma cidade multicultural; neste momento, Espanha está atrás dos Estados Unidos como país do mundo que mais imigrantes acolhe e isso vê-se um pouco por todo o lado; desde os resorts de golf que estao a abarrotar de ingleses, até aos grupos de amigos que se encontram nos cafés, sendo que em 5 pessoas, apenas uma é espanhola. Ingleses, escoceses, franceses, alemaes, holandeses, polacos, brasileiros, escandinavos em geral e, assim de repente, um portuguesito. Ou dois. Somos pouquitos, mas quero pensar que estamos bem representados…:-P

Fora da zona urbana de Murcia, entramos no campo, ou como se diz aqui, na huerta. Começam a aparecer pueblos pequenos, pobres, daqueles que sao atravessados por uma estrada, e que antes que se possa ler o nome da aldeia na placa, já se saiu de lá. Aí sim, saímos de “Lisboa” e entramos na provincia do tipo interior de Portugal. Mas com um aroma flamenco, o que nao deixa de ser, na sua esencia, um pouco assustador. E desolador também.

Surge o contraste quando se conhecem os resorts de golf que rebentam pela regiao como cogumelos, e a costa de Murcia, com a superpovoada La Manga del Mar Menor, e pontuais pueblos que ainda se podem considerar autênticos e pitorescos. E, oops, ou já estamos em Alicante, ou em Almería.

Huerta e resorts de golf de luxo…

A vida corre fácil e sem grandes sobresaltos.

Os portugueses aqui sao muito bem recebidos, porque em geral existe um fascínio por Lisboa e pelo Porto. Todos os murcianos que conheço já visitaram pelo menos uma vez, ou querem visitar, qualquer uma destas cidades. É a tal ponto que temos já feito um roteiro no computador sobre Lisboa e zona de Cascais/Sintra, para enviar a quem nos pergunta o que há para ver na capital. Na pior das hipóteses, nao nos ligam, o que também é bom; antes isso do que sermos maltratados, como por vezes acontece nas zonas fronteiriças.

O custo de vida é relativamente baixo, e embora os ordenados sejam considerados os mais baixos de Espanha, Murcia é a regiao do país onde as pessoas mais satisfeitas se sentem, porque existe realmente uma grande qualidade de vida. A maior parte das ruas sao peatonais, ou semi-peatonais; existe uma grande actividade de rua, seja com cafés e lojas, seja com o facto de simplesmente se poder passear traquilamente; os copos sao baratos e há uma grande variedade de bares e de discotecas, às quais se pode ir a pé; o desemprego é baixo; planeia-se fazer estradas para bicicletas, devido ao bom clima e ao facto de a cidade ser totalmente plana; as pessoas sao simpáticas e acolhedoras…

Tudo isto nao implica, todavia, que tudo seja perfecto.

O típico murciano é uma pessoa conversadora e aberta, mas com alguna frequência, encontra-se um personagem com a qual pode ser um bocado complicado lidar: el huertano.

(Tom de voz David Attenborough)

O “huertano” é uma figura que remonta aos tempos em que Murcia regiao dependia essencialmente do trabalho do campo. Algo que, por si só, diz muito. É uma figura rude, bruta, que recorre a palavroes e tons de voz mais altos para se fazer notar, e para fazer valer o seu ponto de vista, mesmo que este esteja rotundamente errado.

Em geral, a pronúncia murciana é, em muitos casos, muito marcada e torna a compreensao do castelhano difícil. Tomemos como exemplo a seguinte frase paradigmática: Has comido ya?, que quer dizer em português “Já comeste?”. A pronúncia castelhana para esta frase é: Ás cómidô iá.

A pronúncia murciana é: Ácomioiá.

Imaginemos um cenário em que, num local de trabalho, o responsável é uma personagem do tipo “huertano”. Todas as frases que ele disser terao um som parecido ao som da pregunta escrita acima. Todas as ordens e explicaçoes dadas serao expressadas assim, e normalmente terminarao com “m’entiende?”.

Agora, imaginemos que temos de pedir para o responsável repetir o que acabou de dizer, porque nao conseguimos entendê-lo. Ele repetirá o que disse, mas mais alto, mais rápido, e com palavroes à mistura.

Num contexto social normal, conviver com um (ou uma) huertano(a) pode ser bastante agradável, excepto em dois pormenores: primeiro, a comunicaçao pode ser seriamente danificada se nao há reciprocidade (i.e., se nao entendemos o que o interlocutor diz, mesmo que o repita 50 vezes); segundo, pode surgir um sentimento natural de frustraçao por nao se conseguir aprender esta lengua em concreto, que origina do dialecto da regiao, que se chama “panocho” – isto é verdade.

É fundamental também salientar que, no século XXI, o personagem huertano nao se encontra exclusivamente no seu habitat original: a huerta. Com a modernizaçao de Espanha, o aumento de pessoas a viver nas cidades e novas oportunidades de negócios, um huertano pode ser encontrado em lojas de mobiliario de design, em centros comerciais, em escritorios de contabilidade, em firmas de advogados, em bancos e, muitas vezes até, em postos de funçao pública e governaçao.

E, regra geral, um huertano nao costuma ser um bom patrao: nao porque a sua forma de expressao seja inatingível, mas porque o facto de nao ser comprendido à primeira gera impaciência. Como toda a gente sabe, a impaciência leva à raiva, e a raiva leva ao lado negro da Força...

(continuará num próximo momento de inspiraçao…)




O silêncio… provavelmente, uma das qualidades mais apreciadas na cultura portuguesa.
O silêncio dorminhoco das carruagens do metro às oito da manha; o silêncio desolado e aborrecido no trabalho; o silêncio das refeiçoes, com o eco da televisao que berra “Telejornal!!!!” por todo o lado; o silêncio dos condutores no trânsito (porque é que será que as pessoas parecem sempre infelizes dentro dos carros, já perguntava o tipo do “My Sister = My Clock” dos dEUS, num daqueles diálogos impagáveis, mas tao banais); o silêncio da noite, e o inesperado silêncio do dia.

Que digo eu?

Passo todo este dia em silêncio, entrecortado com o zumbir do ar condicionado e do computador, os meus ocasionais passos, o autoclismo a descarregar, o vento lá fora que vai entreabrindo a porta, e uns carros quaisquer que passam na estrada aqui ao lado. O silêncio é humano aqui, porque as máquinas falam demais. E é muito curioso como o silêncio, no fim de contas, revela todo o tipo de sons nos quais normalmente ninguém repara.

O silêncio é humano. Para tudo o resto, isso nao existe.

Fará hoje sensivelmente um ano e um mês desde que publiquei o meu último post. E, muito embora ainda me faça uma enorme confusao pensar que sou “lida”, a verdade é que muitas vezes quis parar para escrever e publicar, nem que fosse a coisa mais parva que alguma vez escrevi na minha vida – vide os dois parágrafos acima; nao serao os mais parvo, mas pelo menos pode-se ler na legenda: “tenho de começar por algum lado e, portanto, vou inventar.”. Só que este último ano foi muito movimentado, e por muito que tivesse imensas coisas para dizer, o facto é que as circunstâncias nao mo permitiram. Aliás, já é bom ainda conseguir ser minimamente fluente na escrita em português, os meus dias normalmente passam-se em espanhol e em inglês, portanto suponho que algumas calinadas na minha língua de Camoes poderao ser perdoadas...

É claro que podia escrever sobre o percurso todo, desde o dia em que me meti no carro e viajei durante 12 horas para aqui, até ao preciso instante em que abri um documento word no dia 9 de Setembro de 2007 e comecei a escrever este rascunho. No entanto, acho que nao vale a pena. Os fios das situaçoes desvelar-se-ao à medida que vá publicando, e por outro lado, evito aborrecer-me de morte a escrever um post de 30 mil páginas sobre um ano de vida em Espanha, além do que isso faz-me dores de cabeça. Compilar 365 dias de informaçao na mente em duas horitas é tao mau como fazer exames de Economia, depois de 3 semanas de explicaçoes intensivas. O que, curiosamente, será a minha última recordaçao de Portugal, embora depois disso outro ano tenha passado.

Discorrendo: fará hoje um ano desde o meu último post. E hoje estou a sentir-me como se estivesse dentro de uma bolha – “inside-a-bubble day”.

Factos: hoje é sábado e estou a trabalhar. Nao vou falar sobre o meu trabalho; é um trabalho corporate, solitário, que pode induzir à depressao e que, muito embora envolva em certos momentos muita comunicaçao gratificante com pessoas, essa comunicaçao costuma ser repetitiva. Ponto final.

Factos: dormi quatro horas na noite passada e estou aqui a funcionar à base de cafés – costumam ser cinco ao dia – porque ontem vieram cá tocar os X-Wife num concerto gratuito.

Confesso que os X-Wife nao sao precisamente a minha banda preferida. Quer dizer, simpatizo com eles, gosto da música, gosto dos sets do Kitten, mas nunca me vi envolvida naquela “movida” toda do revivalismo dos 80 e afins. Oiço, gosto, tenho os álbuns, mas nao sou faaaaaaaaaa. No entanto, dado a situaçao de viver a 1000 quilómetros de Portugal, de os X-Wife serem a única banda portuguesa no festival (e nao me lixem porque eu continuo a nao suportar rock espanhol...) e de o concerto ser à borla, mais um bocadinho de saudades de certas coisas porreiras de Lisboa, lá me enchi de coragem e fui. All Stars vermelhos, coleira de picos e uma pinta betinha negligée, e de balde de vinho com coca cola.

A qualidade do concerto, comparada com a das “celebridades” espanholas, surpreendeu-me muito e fez-me sentir bastante orgulhosa. E – será possível?! – ver ali os meus compatriotas em palco a rasgar até me pôs mais ou menos de lágrimas nos olhos... que piroso!

O que nao me fez sentir nada orgulhosa, e na verdade quase que soltou a peixeira que há em mim, foi um grupo de bimbas-tipo-concerto-do-tony-carreira-versao-spanish que se pôs nas grades, defronte do palco, a gritar completamente histéricas, quase a saltar a vedaçao para os ir violar. Nao, a sério, uma delas devia ser mae de filhos e tudo. Nem quero pensar o que seria se isto fosse num concerto do David Bisbal ou num concerto de reuniao dos Take That... além do que, no presente contexto, é surrealista.

E, em quatro ou seis horas, passei dos X-Wife para o silêncio de um escritório solitário, onde sou a única pessoa presente.


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