Existe a ideia instalada de que um idiota é, para além do significado óbvio da palavra, alguém com muitas ideias. E, como a maior parte dos mal-entendidos, quando uma mentira se repete muitas vezes, toda a gente acredita. De facto, se esse significado alguma vez foi verdadeiro, actualmente já não o é, como constata a citação retirada do dicionário que se pode ler no userinfo. A crise está aí, e disso não há dúvida; mas as implicações dessa crise vão para além do factor económico. Há uma crise de valores enorme na nossa sociedade - quem sabe, não só na nossa -, que leva a que as pessoas se comportem autênticas bestas. Desde o proprietário de um pitbull terrier, que anda com ele solto e treinado para matar, até ao indivíduo que, numa altercação de trânsito, é capaz de parar o carro em plena auto-estrada para ameaçar porrada, ou pior. Nunca antes foi tão perigoso dar um encontrão em alguém num local público e pedir desculpa logo a seguir. Se o comportamento ético e cívico nunca foi exemplarmente observado, que dizer do facto de as leis, por muito que algumas sejam idiotas, nem sequer sejam cumpridas? Pior, porque é que ir beber um copo à noite implica que o regresso a casa seja feito num percurso batido pela polícia quase em estado de lei marcial, quando numa qualquer rua residencial há sempre um indivíduo que entra em excesso de velocidade, atropelando - e matando - peões e animais?O progresso económico e tecnológico da nossa era não nos está a tornar melhores seres humanos. Estamos cada vez mais burros, desinteressados e desinteressantes, cada vez mais idiotas e agressivos. Acredito que haja lugares onde tal não aconteça, mas por alguma razão, não creio que tais lugares estejam ao meu alcance. Mais, porque me hei-de mudar, quando é aqui que eu quero ficar, e onde em última análise, pertenço? Serei eu uma ave rara, uma espécie de pessoa reaccionária com menos de 30 anos, com preocupações culturais, cívicas e sociais? Será tudo reduzível a uma questão política, como é costume em Portugal? Não.Por exemplo: toda a gente tem um blog. Eu já tive tantos blogs que já nem sei o que hei-de fazer para os contar, todos eles projectos bonitos e interessantes, que acabaram em becos sem saída. Sim, as intenções são sempre boas, mas o cumprimento delas, numa vida idiota de casa-trabalho, trabalho-casa dá cabo delas. Mas o ponto onde quero chegar é que, graças à maravilha tecnológica que é a Internet (free porn!free porn!!), toda a gente pode simplesmente postar a sua opinião, independentemente de alguém a ler, ou sequer se interessar sobre. Portanto, qualquer idiota tem direito a dizer o que quer, porque vivemos graças a deus numa democracia, e porque a Internet ainda é muitíssimo democrática. E, por muito que a opinião pela opinião seja um dever garantido pelas constituições democráticas do Mundo, a verdade é que quando é demais, chateia. E nós temos uma tendência abismal para abusar dela.Toda a gente tem alguma coisa para dizer, uma crítica para tecer, uma ideia formada e fundamentada sobre todos os assuntos respeitantes à vida humana, desde a jardinagem à pesca. Qualquer idiota sabe muito bem como pode mudar o Mundo, mas não é qualquer idiota que o faz, de facto. Para além de ser complicado e dispendioso, para não falar de cansativo, há tantas coisas com que nos podemos distrair! Como por exemplo, criar blogs como cogumelos e espalhar o nosso evangelho pelos quatro cantos da Internet...Homenageando o legado dos nossos antepassados e a sua luta para que todos nós possamos ter direito a dizer o que nos vai na alma - ou seja, cortar na casaca, por exemplo - este é o Blog Idiota. Uma grande ideia, portanto.